Vol. XIII: Vitrais 92 - set 2020

A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers

ISSN 2317-0719

VITRAIS
Vol. XIII: Vitrais 92 - set 2020

 

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Artigo 3

 

Criatividade em Ramain-Thiers

 

por: Leila Maggio T. de Mello

 

Me em Psicanálise Saúde e Sociedade. Psicóloga Clínica. Psicomotricista. Sociopsicopsicomotricista Ramain-Thiers.Vice-presidente da ABRT -Associação Brasileira Ramain-Thiers. Psicoterapeuta de Grupo de Formação em Ramain-Thiers.

 

Quero agradecer o convite de Isabel Bellaguarda e Leopoldo Vieira para participar da II mesa partilhada que celebra os 30 anos do Ciar. Parabenizo o Ciar pelos 30 anos e por esse evento maravilhoso da Psicomotricidade.

O mundo enfrenta uma pandemia, fomos surpreendidos por um inimigo e invisível, um vírus que parou as pessoas em uma escala global. As relações sociais se ressignificaram, a tecnologia está sendo nossa aliada, tornando nosso cotidiano menos árido com a possibilidade das lives e do vídeo chamado, ocupando o espaço na interação social.

Venho hoje sobre a criatividade em Ramain-Thiers em tempos de isolamento social e estou trazendo a sobremesa, que é algo prazeroso que dá gosto e compõe com maestria o final de uma refeição.

Fazendo uma viagem histórica da gastronomia, podemos observar que os banquetes na idade média não existiam uma ordem entre as categorias dos pratos em uma refeição. Na mesa eram dispostos carnes, queijos, doces, ensopados, pães, frutas. Tudo era consumido ao mesmo tempo. 

Foi em 1533 que Catarina de Médici saiu de Florença para se casar com o futuro rei da França Henrique II. Catarina tinha um apreço por doces e ao se mudar para Paris apresentou a corte novos hábitos de abrir os banquetes à participação feminina, introduziu o garfo e transportou a sobremesa ao final da refeição, como um grand finale, verdadeira joia rara.

Estamos aqui para brindarmos a arte de ser corpo, uma instância simbólica e pulsional e através da Sociopsicomotricidade oferecemos luz para que esse corpo possa se expressar.

Neste momento conturbado que estamos vivendo com a pandemia, surge uma pergunta: Como estamos pensando o atendimento online? Nesta nova modalidade de atendimento que se faz presente, está em foco o olhar e a voz.

A voz sinaliza um olhar e o olhar que vê, que é visto e comentado, se faz circular e vai oferecendo um lugar próprio de acolhimento e segurança, se faz sob o manto da linguagem.

Podemos observar esse movimento na relação mãe-bebê, enquanto obebê mama, ele olha e é visto, o olhar da mãe é carregado de afeto e produz um eco no corpo. O olhar toca sem precisar tocar (pulsão escópica). Um outro momento importante é o estágio do espelho, a criança vê a imagem do seu corpo refletido no espelho, ela jubila e olha na direção da mãe ou seu representante. A criança se apresenta para o outro, se exibe para o outro ver, ser visto, ser aplaudido em um grande espetáculo.

Somos tocados pelo olhar e pela voz do outro, esse olhar pode ser de deleite ou fruição, esse movimento está para além das palavras.

Um outro aspecto importante é a prosódia que está relacionada à maneira como falamos e como entoamos nosso discurso e as variações melódicas que facilitam a compreensão da fala, assim como as intenções de cada falante. A entonação e o ritmo auxiliam na produção de sentido, incluindo sentimentos, com função libidinizante oferecendo sustentação e estrutura.

Nesse novo cenário de atendimento online, a Sociopsicomotricidade vai além da tela, adentra na casa com seus elementos, trazendo assim novas integrações possibilidades e crescimento.

Quando falamos em criatividade o que vem a mente? A possibilidade de fazer, construir, transformar ou apenas pensar de modo diferente. A sociopsicomotricidade Ramain-Thiers trabalha p ser criativo nas atividades de psicomotricidade diferenciada. Utiliza os diferentes materiais: texturas, desenhos, colagens, simetrias, alinhavos, papéis quadriculados. Quando surge um erro em um trabalho, não utilizamos a borracha, fazemos a troca dos lápis em um movimento circular (lápis preto, vermelho, azul e verde).

Os erros deixam marcas e nos ensinam e servem como experiências para novos traçados. Com isso podemos descobrir novas conexões e caminhos, tanto de reparação como de construção. Há sempre a possibilidade de ressignificar a nossa percepção em relação a vida e aproveitar das aprendizagens de todas as nossas vivências. A cada traço a cada cor, faz emergir pequenos fragmentos de um não dito, com sensações despertando os sentidos. O corpo que habita o espaço vai ganhando a ação, transformando, inventando, se expressando em um movimento de vida.

Quando criamos um trabalho de arte somos nós a realidade nova, a cada alinhavo, a cada colagem, é um encontro consigo mesmo, com as nossas possibilidades e limites. A ação criativa na Sociopsicomotricidade possibilita o despertar da experiência de vitalidade, intensificando a experiência do sentir.

Ferreira Goulart nos diz que “A arte existe porque a vida não basta”.

Ramain-Thiers concebe o ser uno: corpo-mente-psiquê, valores e virtudes capazes de promover discernimento nas relações e atitudes, uma postura ética no mundo.

Vou trazer uma citação de Solange Thiers que contribui para refletirmos sobre o nosso contexto atual.

“Nós como psicomotricistas, confiamos na vida porque “somos”, pensamos, sentimos a intensidade da força dos vínculos, compreendemos como seres humanos as dores porque também amamos e sofremos. Trazemos a perspectiva humanística de divulgar o bem para ser coerente aos nossos propósitos de justiça e felicidade.

Compartilho uma poesia, Samba da Utopia de Jonathan Silva, para brindar a arte de ser corpo, seguindo sempre o nosso propósito como psicomotricistas, a arte de saber cuidar.

 

Se o mundo ficar pesado eu vou pedir emprestado

A palavra poesia

Se o mundo emburrecer eu vou rezar p’ra chover

A palavra sabedoria

Se o mundo andar p’ra trás vou escrever num cartaz

A palavra rebeldia

Se a gente desanimar eu vou colher no pomar

A palavra teimosia

Se acontecer afinal de entrar em nosso quintal

A palavra tirania

Pegue o tambor e o ganzá vamos p’ra rua gritar

A palavra utopia.

 

 

Bibliografia:

THIERS, Solange. Ser na vida: O corpo e seus diferentes vínculos in (Org.): Thiers,S. Thiers,E.  Essência dos Vínculos. Rio de Janeiro: Editora Altos da Glória, 2001.

QUINET, A.Um olhar a mais. Editora Zahar, 2002.

PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.