Vol. XIV: Vitrais 95 - jul 2021 

A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers

ISSN 2317-0719

VITRAIS
Vol. XIV: Vitrais 95 - jul 2021

 

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Artigo 1

 

Os efeitos da pandemia pelo C.19 e a intensificação dos sintomas psíquicos no relato de três gestantes na atualidade

 

Por: Marina Aparecida Fraga Abelha Stremlow

Psicóloga. Psicanalista. Gestão em Família. MS em Psicologia Social. Sociopsicomotricista Ramain-Thiers.

 

Os efeitos da pandemia pelo C.19 e alguns sintomas se tornaram mais recorrentes na Sociedade Brasileira e de forma geral na atualidade muito intensos e tensos.

A partir dos relatos de gestantes, como também, um trabalho de atendimento e escuta das mesmas, convido nesse artigo à essa reflexão.
    Segundo Birman (2021), em publicação recente, na qualdiscorre sobre a neurose de angústia, a hipocondria, quadros depressivos e de melancolia, ritualização do cotidiano em torno de regras e ingestão de drogas lícitas e ou ilícitas com variante na ingestão excessiva de alimentos com aspectos de bulimia.

Os sintomas, talvez, um ou outro já existentes nos sujeitos, possivelmente aumentaram nesse momento da pandemia ou mesmo vieram à tona, exatamente pela angústia de não saber, ou não poderdominar as consequências do vírus C.19 na saúde humana. Incluímos ainda, um outro aspecto a partir da nossa observação, que é a negação da pandemia, ou seja, a convicção do sujeito de que nada o atingirá, abdicando de se antecipar e exercer os cuidados necessários frente ao presente momento e à dura realidade.
   Um fator marcante e muito especial é estar gestante e exercer com seus pares a parentalidade (Teperman 2020), especialmente nesse período de pandemia (distanciamento, álcool em gel, máscara e etc.). O desconhecimento da ciência em abranger a letalidade do vírus em cada sujeito, acentua o risco a gestação, somados aos riscos implícitos à mesma. Não é possível tratar uma gestante com C.19, sem que isso envolva uma total limitação, complicações maiores e desconhecidas, finalizando em graves consequências. 

Quando se trata da primeira gestação, é muito comum estar presente o processo de negação. Conforme relatado, as gestantes se sentem suspensas, desprotegidas diante da vida e declaram: “como se a vida tivesse parado diante de mim” (SIC). Relatam ainda, que se sentem solitárias e carentes de conviver e circular com as pessoas “está pegando muito não poder encontrar os amigos e familiares”, e “nem mesmo poder contar com ajuda junto do bebê” (SIC).

Embora esses sintomas sejam comuns a qualquer pessoa, atualmente, as gestantes os vivem de uma forma mais real, além de ameaçadora na medida em que se “culpam”, por uma gestação, que resulte em risco para si e para seu bebê. Teperman (2020), diz que essa culpa imputada à mãe é historicamente construída e não reflete os limites e nem o alcance da relação um a um (mãe e bebê), que se dão nos laços sociais de geração a geração.

É importante observar também,que na maior parte dos casos a presença do parceiro, marido, familiares, ou profissionais da saúde, é reconhecida pela gestante como essencial e ameniza a angústia gerada nesse período. Vivem, porém, com intensidade alterações de sono e vigília, alterações de apetite e alterações no comportamento e na impulsividade. As gestantes relatam ainda, a força opressora da rotina que envolve a gestação e puerpério, nos cuidados com bebê sem poder contar, ou mesmo, contando com pouca ajuda dos familiares. “Sinto-me isolada dentro do isolamento da pandemia” (SIC). Com relação a questão hipocondríaca citada por Birman (2021), as gestantes trazem também intensificados esses sintomas, quando associam com qualquer alteração física ou fisiológica a presença do vírus da C.19, antes mesmo de entender, que pode se tratar de sintoma ligado as alterações típicas da gestação.

Os grupos de escuta com trabalho de apoio à gestação, suspensos nesse momento é uma oportunidade, para a gestante junto à outras gestantes, de serem acolhidas por uma equipe multidisciplinar, para que possam atualizar o que acontece consigo e com as outras gestantes com a finalidade de se organizarem psiquicamente, em busca deformar uma rede de apoio em seus laços sociais que favoreçam a sua gestação e puerpério.

A partir dessas constatações e implicações faz-se necessário, de forma urgente, o atendimento e suporte a gestante/puérpera e seus familiares, com prioridade para as situações de riscos: orgânicos, psíquicos esociais, envolvidos em cada gestação.

Em benefício dessa demanda represada pelas restrições impostas pela pandemia e para que essa aproximação da gestante e seu contexto seja um meio de fortalece-la nos seus laços, é que lançamos esse trabalho de prevenção aos sintomas já citados, para que cedam lugar a uma perspectiva mais humanizante no processo de gestar e ter filhos. É preciso ainda considerar que o atendimento on-line pode ser um instrumento que permite o acolhimento das gestantes/puérperas e que se destina a suprir a lacuna gerada temporariamente pela pandemia na execução desse serviço, sem prescindir dos grupos presenciais assim que seja possível.

Ainda para finalizar coloco a questão: Porquê da Psicanálise nesse lugar. Para Teperman (2020) “o psicanalista se empresta enquanto integrante do conjunto, que pressupõe a parentalidade e aí oferece o seu saber sobre o exercício das funções parentais de caráter estrutural para entender a constituição do sujeito na família para além do universo pai-mãe-bebê. E em sua exterioridade produz aberturas onde o conhecimento instrumentalizante produza menos ingerências danosas a criação das crianças”.

A importância da Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers nesse processo é instrumentalizar e fortalecer o trabalho de grupo, ampliando o entendimento de si, do outro e das relações familiares.

 

REFERÊNCIAS

                                                                          

MALDONADO, Maria Tereza. Nós estamos grávidos. Rio de Janeiro: Bloch, 1983.

MALDONADO, Maria Teresa. Psicologia da gravidez, parto e puerpério. Petrópolis: Vozes, 1988.

NASIO, Joel. O trauma na pandemia do Corona vírus: suas dimensões políticas, sociais, econômicas, ecológicas, culturais, éticas e científicas. 1ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020.