Vol. X: Vitrais 84 - det 2017

A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers - ISSN 2317-0719

 

VITRAIS
Vol. X: Vitrais 84

                        set 2017

 

Editorial

Notícias

Literatura

Eckhart Tolle


Artigos

Marina Andrade e Maria de

  Nazaré Fonsêca

Irvin Yalom

 

Reflexão

Sigmund Freud

 

 

 


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Artigo 2

 

Reconheça seus erros
 

Irwin D. Yalom


Reconheça seus erros

Irwin D. Yalom

Psiquiatra. Professor emérito da Universidade de Stanford

 

Foi o analista D.W.Winnicott quem certa vez fez a observação incisiva de que a diferença entre mães boas e mães ruins não eram seus erros cometidos, mas o que elas faziam com eles.

COLEÇÃO
RAMAIN-THIERS

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Volume I
Ramain-Thiers: a vida, os contornos
A re-significação para o re (nascer)
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Volume II
A potencialidade de cada um:
Do complexo de édipo a terapia de casais
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Volume III
A dimensão afetiva do corpo:
Uma leitura em Ramain-Thiers

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Volume IV
As interfaces de Ramain-Thiers

 

 

.Atendi uma paciente que tinha deixado seu terapeuta anterior por algo que poderia parecer um motivo trivial. Em seu terceiro encontro, ela havia chorado copiosamente e tinha esticado o braço para pegar o lenço de papel, e acabou encontrando uma caixa vazia. O terapeuta tinha começado a procurar, em vão, por lenços de papel ou um lenço, e finalmente saiu correndo pelo corredor até o banheiro,

Para voltar com um punhado de papel. Na sessão seguinte, ela comentou que o incidente deveria ter sido constrangedor para ele, ao que ele respondeu negando qualquer espécie de constrangimento. Quanto mais ela pressionava, mais ele teimava e rebatia perguntando por que ela insistia em duvidar da resposta dele. Finalmente ela concluiu (corretamente, me pareceu) que ele não tinha se comportado com ela de maneira autêntica e decidiu que não conseguiria confiar nele para o longo trabalho à frente.

Um exemplo de erro reconhecido: uma paciente que tinha sofrido muitas perdas anteriores e enfrentava a perda iminente de seu marido, que morria de um tumor cerebral, certa vez me perguntou se algum dia eu tinha pensado nela entre as sessões. Respondi: “Muitas vezes pensona situação” Resposta errada! Minhas palavras a insultaram. “ Como você pôde dizer isto”, ela perguntou, “você que supostamente deve ajudar – você,  que me pede para  compartilhar meus  sentimentos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

pessoais mais íntimos. Essas palavras reforçam meus temores de que não tenho um “eu”, que todo mundo pensa na minha situação e ninguém pensa em mim”. Mais tarde, ela acrescentou que não apenas não tem um “eu” (self), mas que eu também evitei introduzir meu próprio self nos meus encontros com ela.

          Ruminei suas palavras durante a semana seguinte e, concluindo que ela estava absolutamente certa, iniciei a sessão seguinte reconhecendo o meu erro e pedindo-lhe que me ajudasse a identificar e a entender meus próprios pontos cegos nesta questão. (Muitos anos atrás, li um artigo de Sándor Ferenczi, um analista talentoso, no qual ele relatou ter dito a um paciente: “Talvez você possa me ajudar a localizar alguns dos meus próprios pontos cegos. ”  Essa é outra das frases que se alojaram na minha mente e frequentemente uso no meu trabalho clínico).

          Juntos, examinamos minha apreensão com a profundidade de sua angústia e meu profundo desejo de descobrir alguma maneira, qualquer maneira que não fosse um abraço físico para confortá-la. Talvez, sugeri, eu estivesse me afastando dela nas sessões recentes por causa da preocupação de que tinha sido excessivamente sedutor em prometer muito mais alívio do que algum dia seria capaz de oferecer. E acreditava que fosse esse o contexto da minha declaração impessoal sobre a sua “situação”. Teria sido muito melhor, eu lhe disse, simplesmente ter sido honesto sobre meu desejo de a consolar e minha confusão sobre como proceder.

          Se você cometer algum erro, admita-o. Qualquer tentativa de o ocultar acabará se transformando num tiro pela culatra. Em algum estágio, o paciente perceberá que você está agindo de má fé, e a terapia sofrerá as consequências. Além do mais, uma confissão franca do erro é uma boa maneira de definir modelos para os pacientes e mais um sinal de que eles são importantes para você.

Referências

YALOM, Irvin D. Os desafios da terapia: reflexões para pacientes e terapeutas.  Vera de Paula Assis (trad). 2ª reimp. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.P. 43.

 
 

 

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