Vol. XV: Vitrais 99 - ago 2022 

A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers

ISSN 2317-0719

VITRAIS
Vol. XV: Vitrais 99 - ago 2022

 

Editorial

Notícias

Literatura

André Vergez e Denis Huisman

 

Artigos

Elizabeth Luiza Possan

Sara Paín

 

Reflexão

William J. Bennett

 

Como publicar seus artigos

Contato com Elisabete Cerqueira

elisabeteccerqueira@yahoo.com.br


Números anteriores

 

 

Vol. l:  

Vitrais 56 jun 2007

Vitrais 57 – fev 2008

Vitrais 58 – nov 2008  
Vol. ll:  

Vitrais 59 – mar 2009

Vitrais 60 – jul 2009

Vitrais 61 – dez 2009

 

Vol. lll:

 

Vitrais 62 mar 2010

Vitrais 63 - jul 2010

Vitrais 64 dez 2010

 

Vol. IV:  
Vitrais 65 mai 2011 Vitrais 66 - set 2011
Vol. V:  
Vitrais 67 mar 2012

Vitrais 68 - ago 2012

Vitrais 69 dez 2012  
Vol. VI:  
Vitrais 70 mar 2013 Vitrais 71 – jul 2013
Vitrais 72 – out 2013 Vitrais 73 – dez 2013
Vol. VII:  
Vitrais 74 – mai 2014 Vitrais 75 - ago 2014
Vitrais 76 – nov 2014  
Vol. VIII:  
Vitrais 77 – jun 2015

Vitrais 78 -  nov 2015

Vol. IX:  
Vitrais 79 – mar 2016 Vitrais 80 -  jun  2016
Vitrais 81   out  2016

Vitrais 82 -  dez  2016

Vol. X:  
Vitrais 83  abr  2017 Vitrais 84 -  set  2017
Vol. XI:  
Vitrais 85 – jan 2018 Vitrais 86 – mai 2018
Vitrais 87 – jul 2018 Vitrais 88 – dez 2018
Vol. XII:  
Vitrais 89 – abr 2019 Vitais 90 - ago 2019
Vol. XIII:  
Vitrais 91 – jun 2020 Vitrais 92 – set 2020
Vitrais 93 – dez 2020  
Vol. XIV  
Vitrais 94 – mar 2021 Vitrais 95 – jul 2021
Vitrais 96 – set 2021  
Vol. XV  
Vitrais 97 – jan 2022 Vitrais 98 – mai 2022

 

                   

 

Artigo 2

 

Tornar Consciente o Inconsciente: Uma tentativa Impossível

 

Por: Sara Pain

 

Sendo o inconsciente definido como puro processo e a conscientização como puro resultado, seria necessário rever o sentido da finalidade designada por Freud (1926) à psicanálise, a saber, tornar consciente o que é inconsciente. Com efeito, Freud considerava que “há”, na vida psíquica, uma potência que censura, excluindo do devir consciente e da incidência sobre a ação, as tendências que lhe desagradam. Chamamos “recalcadas” a essas tendências. Elas continuam inconscientes; quando nós nos esforçamos para torná-las conscientes ao paciente, suscitamos nele uma “resistência”. Nos exemplos trazidos por Freud, constatamos que o conteúdo dos fantasmas inconscientes foram, um dia, conscientes e que seu conteúdo corresponde a situações primordiais de satisfação perversa. Ora, sendo que a razão da conservação e da repetição desses fantasmas é seu valor erógeno, o acesso à consciência de suas representações, fora de toda equivalência metafórica, indica a possibilidade do sujeito, de lançar essas situações ao apagamento cognitivo. Essa perda de uma fonte de excitação parece-nos ser possível, no tratamento, graças à transferência que permite ao sujeito viver novas situações erógenas, simbolizadas de outra maneira.

Freud (1908) já tinha escrito que “os fantasmas inconscientes ou sempre foram inconsciente ou foram formados no inconsciente, ou então, o que é o caso mais frequente, foram outrora conscientes nos sonhos diurnos e foram, em seguida, esquecidos intencionalmente, lançados no inconsciente por força do recalcamento”. Visto que os conteúdos da consciência devem ser elaborados, tudo aquilo que se torna consciente deve ter passado pelo inconsciente. O inconsciente não pode, pois, ser concebido como uma moldura, mas como um sistema de operações de transformação. Para recalcar um conteúdo é necessário modificar sua formulação e para dar-lhe de novo sua inteligibilidade é preciso ainda transformá-lo, talvez não para fazê-lo retornar à sua forma de partida, mas a uma nova forma. Tomemos um exemplo: D. tinha uma lembrança infantil de seu pai entrando em casa, a mão envolta num curativo (ele tinha sofrido um acidente de carro). A lembrança não correspondia à realidade, porque o braço tinha sido engessado e a mão, pelo contrário, ficara descoberta. Fazendo associações relacionadas a essa lembrança, uma outra imagem emergiu mostrando o pai encolerizado e pronto para esmurrar uma mesa com punho. Entretanto, D. fazia ideia de seu pai como um homem bastante calmo. A lembrança do episódio da cólera não poderia ter sido construída se ela não tivesse sido recalcada e substituída pelo fantasma da mão envolta num curativo, “lembrança” impossível de esquecer, porque ela não era realmente uma lembrança. Não parece, nesse caso, que isso seja o inconsciente que se torna consciente, mas o conteúdo da lembrança-fantasma em questão, afrouxada pelo inconsciente simbólico, pode ser, de agora em diante, assimilada a um esquema inconsciente cognitivo, como experiência inteligível.

 

REFERÊNCIAS

PAÍN, Sara. A função da Ignorância. Trad. Maria Elísia Valliatti Flores. Cons. Sup. Rev. José Luiz Caon; Marta D` Agord. ed. ver. e atual. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda, 1999. P. 78-79.