Vol. XV: Vitrais 98 - mai 2022 

A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers

ISSN 2317-0719

VITRAIS
Vol. XV: Vitrais 98 - mai 2022

 

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Artigo 2

 

A situação clínica: Regressão Clínica

 

por: Joseph Sandler, Christopher Dare e Alex Holder.

 

 

 

 

Um aspecto do processo psicanalítico,que merece especial menção e atenção, usado com numerosos sentidos na teoria psicanalíticaé o significado específico do termo regressão, isto é, o surgimento de tendências passadas, frequentemente infantis, em situações em que se julga, que tais tendências representam o reaparecimento de modos de funcionamento, que tinham sido abandonados ou modificados. Regressão desse tipo aparece como parte característica do processo psicanalítico, mas os mesmos fenômenos são visíveis fora da análise. Basta apenas citar a maneira como uma criança que está aprendendo a caminhar pode abandonar o controle intestinal no período de tensão consequente ao nascimento de um irmãozinho, ou a maneira como uma criança ou adulto pode se tornar independente quando hospitalizada. Tais regressões, que podem afetar qualquer parte do funcionamento da personalidade, podem ser temporárias ou mais permanentes, insignificantes ou graves. Regressões dessa espécie são de esperar em fases críticas do desenvolvimento do indivíduo e a menos que se mostrem inusitadamente prolongadas ou graves, podem ser consideradas normais (A. Freud, 1965).

No tratamento psicanalítico, uma das funções da situação terapêutica é a de permitir, ou facilitar a regressão. As tendências regressivas são vistas muito claramente na análise à medida que se desenvolvem os fenômenos da transferência, no reaparecimento de desejos, sentimentos, formas de se relacionar, fantasias e condutas infantis para com a pessoa do analista. Contudo, da mesma forma como constitui um veículo essencial, através do qual importantes dados são trazidos do passado numa forma convincente e significativa, a regressão pode, às vezes, ter também um aspecto mais obstrutivo e prejudicial. Se verifica isso especialmente, quando ela se torna tão intensa ou prolongada que o paciente é incapaz de reaver aquela capacidade de auto-observação que é uma parte necessária da aliança terapêutica.

Por exemplo, é muito comum a experiência de verificar, durante a análise, que o paciente se torna, em alguma fase, cada vez mais exigente no que se refere ao amor, afeição e provas de estima por parte do analista. A forma como  isso se manifesta pode ser um importante ponto de partida para o entendimento relativo ao primitivo relacionamento entre o paciente e, por exemplo, uma mãe que foi vivenciada como causadora de privações e omissa. Tal informação pode constituir material essencial para compreender as dificuldades e os problemas atuais do paciente, No entanto, se essa tendência a ser exigente se torna o ponto principal das comunicações do paciente ao analista, e se o analista é incapaz de inverter essa tendência mediante interpretações adequadas ou outras intervenções, a possibilidade de continuaro trabalho analítico pode ser prejudicada ou mesmo, em certos casos, perdida. Isto é evidente em certas formas especiais de transferência.

Diversos autores têm assinalado a importância da capacidade de regredir dentro e fora da situação psicanalítica. Por exemplo, E. Kris (1952) discutiu a importância da capacidade de regressão controlada e temporária no âmbito da criatividade artística. D. W. Winnicott (1954) e M. Balint(1934,1965,1968) acentuaram a importância da regressão do paciente como meio de obter acesso a material que de outra maneira não seria disponível. Isto M. Balint chamou de “regressão a serviço do progresso”. Parece provável que cada psicanalista varia o grau em que (conscientemente ou inconscientemente) favorece as tendências regressivas em seus pacientes.

 

Referências

SANDLER, Joseph. DARE Christopher. HOLDER Alex. O paciente e o analista: fundamentos do processo psicanalítico. Trad. José Luis Meurer. 2ª ed.  Rio de Janeiro: Imago, 1986. P. 21.