Vol. XIV: Vitrais 93 - dez 2020

A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers

ISSN 2317-0719

VITRAIS
Vol. XIV: Vitrais 93 - dez 2020

 

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Artigo 2

 

Reflexão sobre o processo social do cooperativismo

por: Renata Christina Santos do Valle

 

Psicóloga. Sociopsicomotricista Ramain-Thiers. Especialização em Coordenação

de grupos pela SBCG. ME em Psicologia pela UCDB.

 

Tecendo a Manhã

João Cabral de Melo Neto

 

Um galo não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos.

Que com muitos outros galos se cruzem

Os fios de sol de seus gritos de galo,

Para que a manhã, desde uma teia tênue,

Se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,

Se erguendo tenda, onde entrem todos,

Se entretendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

Que, tecido, se eleva por si: luz balão.

 

Aproveitando a simbologia que Melo Neto traz em sua poesia sobre a construção de uma rede de contatos (entre galos) que resulta na confecção de uma manhã, retrata a estrutura e a condição fundamental das interações sociais.

 

O TECER DA REDE

Sabe-se que as associações de microempresas e empresas de pequeno porte, assim como outras formas associativas, entre as quais as cooperativas, vêm sendo consideradas como alternativa viável na atual conjuntura econômica do País, em virtude da sua peculiaridade maior que é a força do conjunto que opera nas mais diversas áreas e atividades de conhecimento humano e na vida das pessoas, daí a ideia que traz a metáfora do tecer da rede.

Deste modo, justifico meu interesse pela perspectiva da Rede de Significações, a qual contempla a discussão sobre a compreensão desta inter-relação entre indivíduo e grupo.

Para iniciar a trajetória desta ideia, recorreremos às primeiras relações sociais com os quais todos nós vivenciamos, a contar o nosso primeiro grupo social, que é a família. Sabe-se que esse processo social acontece de uma maneira peculiar para a espécie humana. As relações sociais são consideradas como fundantes não só nos primeiros anos de vida como também ao longo de toda vida, mantendo-se continuamente como arena e motor do processo de desenvolvimento. (ROSSETI-FERREIRA, 2004)

Quando se trata de relações, entende-se um movimento bilateral, ou seja, a influência recíproca das pessoas umas sobre as outras.

Ao agirem, as pessoas dialogicamente transformam seus parceiros de interação e são por eles transformadas, assim como se modificam as funções psicológicas que lhes dãosuporte, remodelando seus propósitos e abrindo-lhes novas possibilidades de ação, interação e desenvolvimento. (OLIVEIRA, 1988, 1995; OLIVEIRA e ROSSETI-FERREIRA, 1993)

Faz-se necessário o cuidado na análise de todos os componentes participantes desta interação (pessoa, grupo, sociedade, meio), na perspectiva de uma visão sistêmica dentro de exercício das macrodimensões e das microdimensões. Em suma, as interações não devem ser entendidas somente por uma dimensão, seja macrodimensões (sociedade) ou microdimensões (pessoa).

Prosseguindo esta linha de raciocínio, entende-se que as relações sociais são como uma trama, onde pessoa e meio fazem parte do mesmo contexto. Sobre isso Rosseti-Ferreira (2004, p. 26) comenta que

[...] os contextos não são considerados como panos de fundo onde se    dão os processos de desenvolvimento nem como fatores que impingem determinadas normas ou significações, as quais as pessoas se tornam assujeitadas. Ao contrário, os contextos são compreendidos aqui a partir da noção de meio, como proposta por Wallon (1986), o qual tem, simultaneamente, duas funções: a de ambiente, contexto ou campo de aplicação de condutas; e a de condição, recurso, instrumento de desenvolvimento. O meio social, o espaço de experiência da pessoa, representa assim um meio (instrumento, recurso) para seu desenvolvimento.

Mediante essa discussão, é importante entender o meio de acordo com as pessoas que o frequentam, com suas peculiaridades e, principalmente, o momento histórico-social em que estão situados.

Desta forma, o contexto deve ser pensado e entendido a partir das pessoas que dele participam, bem como das interações que nele se estabelecem, assim como seu contexto histórico. A história social focaliza os processos de formação e ressignificação continuados, os quais dão acesso aos múltiplos significados que foram historicamente construídos. (SPINK; MEDRADO,1999, p.51)

E para finalizar, cito Rossetti-Ferreira (2004, p. 25) que afirma:

[...] as características pessoais são construídas na história interacional de cada um e tomam sentido em relações situadas e contextualizadas. O outro se constitui e se define por mim e pelo outro, ao mesmo tempo em que eu me constituo e me defino com pelo outro. É nesse interjogo que se dá o processo de construção de identidades pessoais e grupais, ao longo de toda a vida da pessoa.

Portanto, a partir da experiência relatada, foi possível observar que, embora o cenário atual aponte as constantes transformações  relacionamentos interpessoais, tendo o “capitalismo selvagem” como pano de fundo, a existência de movimentos como cooperativismo, o associativismo, entre outros, sinalizam a necessidade da manutenção destas “redes sociais” como meio de sobrevivência do ser humano é relação, constrói-se na relação com o outro e com o mundo e só se deferência e se assemelha no espaço relacional. (SAMPSON, 1993)

 

REFERÊNCIAS 

ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS. Cooperativismo brasileiro: uma história. Ribeirão Preto, SP: Versão Br Comunicação e Marketing, 2004.

ROSSETI-FERREIRA, AMORIM, SILVA, CARVALHO. Rede de significações e o estudo de desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2004.

SAMPSON, E. E. Celebrating the other: a dialogic account of human nature.New York: Harvester Wheatsheaf, 1993.

SPINK, M.J.; MEDRADO, B. Produção de sentidos no cotidiano: Uma abordagem teórico-metodológica para análise das práticas discursivas. In SPINK, M.J. (org.) Práticas Discursivas e produção de Sentidos no Cotidiano. São Paulo: Cortez, 1999. 41-63p.

GERALDI, Ana Cristina; THIERS, Solange (Orgs). Corpo e Afeto: reflexões em Ramain-Thiers.Rio de Janeiro: Wak. Ed., 2009. P. 216-219.