Vol. VI: Vitrais 72 - out 2013
A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers - ISSN 2317-0719
 
     
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VITRAIS
Vol. VI: Vitrais 72

                        out 2013

 

Editorial

Notícias

Entrevista
Leila Maggio T. de Mello


Artigos

Scheila S. Bastos Fontes

Karin Hilel

 

Reflexões

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Thereza Cristina Marinho

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Artigo

 

Ramain-Thiers e a Constituição do Sujeito

 

Scheila Bastos S. Fontes

Pedagoga. Psicopedagoga Clínica.

Sociopsicomotricista Ramain-Thiers

 

A proposta que apresento é a de compartilhar um pouco do processo terapêutico vivido por B. a partir da metodologia Ramain-Thiers no período entre Fevereiro de 2011 e Março de 2012.

Sobre B.:

Neste período, B. tinha 9 anos e cursava a 3ª série / 4º ano, em uma escola particular: a mãe buscou o atendimento por preocupar-se com a dispersão e a falta de investimento da filha diante das tarefas escolares.

Filha única, gravidez planejada e desejada. Parto cesáreo. Foi amamentada até os 6 meses. Aos 7 meses teve obstipação (constipação intestinal), que foi recorrente aos 2 anos, quando deixou a mamadeira. Teve dificuldade com o controle dos esfíncteres, só conseguindo depois de completar 3 anos. Após esse período, teve infecções urinárias recorrentes, “por prender o xixi”, segundo relato da mãe. B. andou com 1 ano e 2meses. Falou cedo, apresentando um bom repertório de vocabulário. Até os 2 anos, dormia bem, depois passou  a ir para a cama dos pais durante as noites, voltando a dormir sozinha no seu quarto aos 8 anos .

No contato com a família, B. é descrita como uma criança tímida e que demonstra insegurança em certas situações, como por exemplo, quando precisa resolver algum tipo de desafio.

Sobre o enquadre:

Neste caso, o atendimento foi individual: inicialmente acontecia duas vezes na semana, com duração de 1h a cada encontro e depois foi feita solicitação para reduzir a frequência para uma vez na semana e, então aceita a solicitação, a duração da sessão foi ampliada para 1h30min e assim mantivemos o trabalho até o seu fechamento.

Sobre o processo de B.:

A partir das avaliações e durante as sessões, foi tornando-se cada vez mais clara a necessidade de trabalhar com a expressão de B.: sua insegurança e o pouco investimento nas produções foram revelando algo quanto à sua dificuldade em fazer contato com o desejo de crescer e um certo incômodo com o seu corpo.

Em um dos procedimentos de avaliação utilizados, Desenhos de Família com Estórias de Walter Trinca, aparece na cena desenhada e na história contada por ela, o receio em trazer à tona, a agressividade e a possibilidade de errar: Ao contar a história, aparecem nervosismo e mais uma vez desconforto, assim como um pedido de confirmação, feito com olhares frequentes dirigidos a mim:

         O pai falou:

        - Tome a sua sopa toda.

        A irmã falou:

       - Não quero mais.

      E a mãe disse:

     - Vá para a sala enquanto a gente termina. Não, mudei de ideia, fique aí  mesmo.

     (nesse momento, olhou muito para mim, demonstrando certo “nervosismo” e diz “então a mãe mudou de ideia”. Perguntei o que teria acontecido pra mãe mudar de ideia: “ela pensou e se arrependeu”. Pergunto, do que ela se arrependeu, disse: “ de brigar com a filha” )

Nas primeiras sessões, foram realizadas propostas livres e semidiretivas, como: desenho livre, arte, caixa de brinquedos e outras.

Na abordagem terapêutica, o trabalho com propostas corporais trazia sempre resistências, negação e muito desconforto com o corpo. Era como se, de fato não houvesse, uma harmonia de movimentos entre esquema corporal e imagem corporal. Fui avançando cautelosamente buscando a disponibilidade de B., utilizando propostas de sensibilização e aos poucos, a “Educação Física”, como ela frequentemente denominava o trabalho de corpo foi dando lugar a um encontro mais prazeroso, buscando a atenção interiorizada, com movimentos mais amplos e um bom contato com o material intermediário, quando utilizado. Ainda assim, era comum a interrupção da proposta, o retorno para a mesa ou a paralisação de movimentos, questionando o atendimento ou a finalidade daquela atividade, manifestando a dificuldade em fazer contato com a sua realidade interna.

A música ou trabalho com ritmos utilizados durante o trabalho de corpo foram me oferecendo pistas para um bom canal de acesso à B. que foi trazendo a música, cantarolando, durante as atividades diferenciadas ou até mesmo na sua chegada à sala.

No início do ano letivo, a escola ofereceu a inscrição para participação em um Coral e a seleção para a entrada no grupo foi feita pelo maestro nas salas de aula: B. foi selecionada! Na sessão seguinte, trouxe essa novidade com muita alegria e a partir daí foram apresentações, algumas assistidas por mim, a convite de B. e compartilhadas com a família e com B. com muita satisfação. Em seguida veio também a sua entrada na aula de piano e acredito que, de fato, a música tenha sido um grande facilitador de sua expressão.

Ao lado dessa caminhada de B. com a música, estávamos eu e o Ramain - Thiers aproximando-a cada vez mais de seu crescimento, suas questões com o corpo, com a sua sexualidade.  

 Percebia cada dia mais o seu encontro e satisfação com a música, embora observasse a sua dificuldade em fazer os movimentos com o corpo coordenado com o ritmo, demonstrando dissociação e o quanto ainda era difícil viver a diferença e o luto desse corpo infantil. 

Desde o primeiro desenho da família, me dei conta de que com frequência, surgia uma situação nas sessões, no momento de concluir alguma atividade: avisava que tinha acabado a produção e quando iria recolher, ela recuava, dizendo “ainda falta uma coisa”, verbalizando assim a “falta” vivida por ela.

Em algumas sessões, logo na sua chegada, B. anunciava um “segredo” ou algo sigiloso que trazia na mão ou na mochila, eu ia perguntando e deixando espaço pra verbalização, mas quase sempre ela respondia com um ar sério e um olhar que não há como descrever e que diz sempre muito dela: “se é sigiloso não posso contar”! Algumas vezes mostrava um objeto, um chaveiro, uma ventosa ou uma parte de algum brinquedo quebrado, em outras vezes mantinha o “segredo”. Pensando na sexualidade como um grande segredo e sigilo para B. e durante partilha em espaço de supervisão, decidi pelo auxílio da literatura e assim, utilizar a Estória, como Atividade Livre.

Apresentei o livro “A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga e disse que iria ler um pouco para ela: o livro é extenso, com muitos capítulos, então decidi fazer um recorte da história e ler para ela o capítulo I, As vontades, que conta sobre a personagem principal, Raquel, suas “vontades” e seus desejos secretos.

 “Eu tenho que achar um lugar pra esconder as minhasvontades... Não digo vontade magra, que nem tomar sorvete a toda hora... vontade assim todo mundo pode ver... Mas as outras – as três que de repente vão crescendo e engordando toda a vida – ah, essas eu não quero mais mostrar... nem sei qual das três me enrola mais. Às vezes acho que é a vontade de crescer, outra hora acho que é a vontade de ter nascido garoto em vez de menina, mas hoje to achando que é a vontade de escrever...”    

Mostrei também para ela as ilustrações que traziam a bolsa amarela que Raquel ganhou e onde ficaram guardadas as suas “vontades”.

Enquanto ia lendo, B. me interrompeu algumas vezes, dizendo ainda do seu sono (compreendido por mim, nesse momento, como pura manifestação do inconsciente!) e também falando da mochila nova da escola, da professora nova que acompanha suas atividades de casa... Ia deixando que ela falasse, ouvindo e dando um tempo para voltar ao texto.

Em certo momento perguntei: Ah, nessa mochila nova você também guarda as suas “vontades”, como Raquel?

“Eu tenho muito segredos dentro da mochila da escola... alguns malucos, outros nem tanto.”

E quais são os seus segredos?

“Não vou contar, senão deixa de ser segredo.”

Bem, pedi então que ela desenhasse as “bolsas” de B. e de Raquel, queria ver se ela verbalizava mais um pouco...

Bem, essa é a bolsa de Raquel:

Enquanto desenhava ia falando dos detalhes, explicando cada um dos detalhes que ia desenhando em cada mochila.

Fez o desenho da bolsa de Raquel primeiro, copiando a ilustração da capa e depois foi desenhando a sua.

A “bolsa de B.”, bem grande, ocupando quase o papel todo.

Grande e cheia de “vontades”.

Talvez aí pistas quanto à sexualidade e o surgimento da passagem para a fase genital: B. se encontrando como menina.

Na sessão seguinte, B. logo quando entrou na sala, foi direto para a mesa pegar a sua pasta, parecia ansiosa para retomar os desenhos e disse que precisava “fazer os detalhes” e aí achei que era isso que tinha de ser feito. Completou com alguns detalhes, poucos, os desenhos da Bolsa de B., dizendo “a de Raquel já tá pronta”.

Desenhou em silêncio, cantarolando, identifiquei a música “Sapato Velho”, do Roupa Nova, perguntei e ela confirmou, estava ensaiando no Coral.

                              Você lembra, lembra!
                              Daquele tempo
                              Eu tinha estrelas nos olhos
                              Um jeito de herói
                              Era mais forte e veloz
                              Que qualquer mocinho
                              De cowboy...

                              Hoje não colho mais
                              As flores de maio
                              Nem sou mais veloz
                              Como os heróis...

                              É! Talvez eu seja
                              Simplesmente
                              Como um sapato velho
                              Mas ainda sirvo
                              Se você quiser
                              Basta você me calçar
                              Que eu aqueço o frio
                              Dos seus pés...

 

 Na música aparece a lembrança de um tempo que passou e o desejo de estar, de ser, de novo, mesmo que seja em outras condições, amando e desejando ser amada.

Quando concluiu o desenho, disse a ela que iria ler mais um pouco do livro e dos segredos de Raquel, aí a fala foi rolando...

 

Vontades de Raquel.

Vontades de B.

 

“Por que Raquel queria guardar as vontades na bolsa? Não precisa: o que é segredo é só guardar na cabeça e ninguém vai saber... a verdadeira bolsa é a cabeça... lá tem tudo secreto, ninguém sabe”.

 

Quais são os segredos e as “vontades” da sua cabeça/bolsa, B.?

 

“As minhas vontades? Vontades secretas? Vontade de voar, de ser invisível, ser uma super heroína que salva todo mundo.”

 

Salva de que? “Salva de todos os perigos que querem atacar... Por que Raquel quer ser menino?”

 

O que você acha?

 

“Não sei, acho que é pra brincar com brinquedo de menino, eu tenho brinquedo de menino e não sou menino... tenho carrinho, tenho boneco max steel, levo até pra escola, só que levo também Barbie... aí a brincadeira é de barbie e max steel casarem (namorar, eu perguntei), não namorar não... É a Barbie casa com ele e depois ENGOLE o pé dele...eu que inventei isso, é uma brincadeira, é uma barbie sem a cabeça (falou mudando o tom de voz e arregalando os olhos, mais uma vez os olhos!)... não tem nenhum problema menina brincar de brinquedo de menino, o mais difícil é menino brincar com brinquedo de menina... Tem um garoto na minha escola que age como menina e brinca de boneca e troca adesivo de menina...Ele não quer ser menina e nem acha que é menina, mas age como menina porque gosta e ninguém diz nada. Agora chega! Acabou esse assunto” (levantando-se da mesa) 

 

Muita verbalização! Olha o segredo aí na sexualidade. De fato era hora de parar e de andar um pouco pela sala, mexer o corpo, se esticar, alongar, com atenção à respiração.

 

B. diz : “Sabe como se respira? Aprendi no Coral da Escola: é assim!”

 

Aproveitei mais um “ensinamento” do Coral...  

Em outro dia quando realizava uma proposta do CR, Quebra-cabeças, conjunto CR012, Proposta 2, enquanto ia pegando as peças do quebra-cabeças, cantava “fácil, extremamente fácil...” , fragmento da música “Fácil”, do Jota Quest.

Começou a ficar angustiada, não estava acertando montar o quebra-cabeças, mas continuava cantando...

 

Perguntou: “você sabe o que é sarcasmo?”

 

E, você sabe?

 

“É quando a gente fala uma coisa, mas é outra... tá muito difícil... não tem como fazer não... tem quatro pedaços (olhou para o verso das peças)... queria ver se tinha alguma dica atrás...”

Demonstrou nesse momento muita raiva, ofereci ajuda, primeiro recusou, depois aceitou, mas ainda assim não conseguiu montar o quebra-cabeças.

Assim ficou o trabalho, incompleto, com a falta. 

Ao fazer a proposta CR05/01, do conjunto Retas e Curvas, verbalizou : “Ai, isso é muito chato, não gosto de fazer esse negócio parecendo bordado, costura... Por que não pode ser da direita para esquerda? Não tô com vontade de fazer isso não. Não devia ter lei!”

Penso no quanto essa proposta parece ter levado B. para a costura, a costura é que tá tão difícil de fazer... Integrar, juntar, masculino, feminino...

Penso também no quanto foi importante “manter a lei” e aí a proposta é, de fato, a “a lei”, sem necessariamente ser rígida e autoritária, ouvindo, ficando mais perto, inclusive para ajudá-la nesse processo de integração. 

Concluiu a proposta, dessa vez sem a falta, sem essa falta.

Em um trabalho corporal, algumas sessões depois, utilizando bolas como material intermediário, B. esteve leve e sorriu muito, embora demonstrasse estar bastante concentrada em todos os movimentos que ia realizando.

Vi então uma B. diferente, solta, leve, à vontade com o seu corpo...

Ao sentar-se, novamente começou a cantar uma música e pediu para desenhar no quadro,  “metade é uma música que cantei no coral e outra parte da letra inventei”.  A música e o desenho contavam de um sonho seu em que voava e eu assistia “tão gentil” o seu voo.

As verbalizações de B. me levavam a pensar no voo, como crescimento e talvez como uma partida: Qual era o voo? Encerramento? Partida? E eu “tão gentil” acompanhando o seu voo, o seu crescimento...

Algumas sessões depois, mais uma vez a música se fez presente no momento em que B. ia fazendo a proposta CR07/03, do Conjunto Traçado: agora cantava “fragmentos” da música dos Beatles:

                  “I Say goodbye

                  I Say hello”

                  Pra quem você diz “hello, B.”?

                  “Pra você”

                  E pra quem você diz “goodbye”?

                  “Pra você também”

(fazendo movimentos apontando ora para a mesa, ora para a porta...)

Fez o decalque com muita força e marcando muito o papel, ao interligar os desenhos, deixou alguns pontos soltos com ligações interrompidas. Talvez aí o desejo de ir e também de ficar, a dualidade que o crescimento traz e a importância de se fazer escolhas.

Ainda nessa sessão, propus como Atividade Livre, um jogo que tem como objetivo formar figuras usando peças de encaixe.

B. jogou todas as peças na mesa e aos poucos foi relaxando e cantarolando uma daquelas músicas “desconhecidas”, daquelas que dizia serem “inventadas”. Escolheu as peças e montou um carrinho de bebê, me pediu um boneco, colocou sentado no carrinho e perguntou se poderia deixar na estante. A leitura que pude fazer naquele momento é a de que B. estava, de fato, caminhando para a fase genital, com possibilidade de reparação, integração, de suportar as perdas, de fazer escolhas e de, principalmente, crescer.

Depois desse encontro, B. iria fazer uma viagem de férias com a família e combinamos o seu retorno para o início do ano seguinte.

A família esteve presente em um encontro com a presença de B. e avaliamos o seu crescimento, mas garantimos o seu retorno como importante para que assegurássemos as suas conquistas e fosse dada continuidade ao trabalho na direção de consolidar novos avanços em direção ao seu desenvolvimento afetivo e social.

Em Janeiro de 2012, mantivemos o primeiro contato telefônico e a partir daí foram sucessivas as tentativas de remarcarmos uma data para o retorno do trabalho e, depois de algumas ligações, houve a manifestação do desejo da mãe em fechar o trabalho. Decidi então, marcar uma reunião com os pais e com B. para avaliarmos essa decisão.

No dia agendado, compareceram à reunião, apenas a mãe e B. Ao entrar na sala, B. olhou o espaço e os objetos, mencionando tudo que percebia como diferente ou novo.

Pediu imediatamente para jogar, quis pegar a caixa de brinquedos, estava inquieta, depois que sentou, iniciei dizendo do meu pedido para estarmos juntos (todos!) em reunião e assim conversarmos sobre a continuidade ou não do trabalho e a decisão da família de fechá-lo  em 2012.

Ao perguntar à B. se ela sabia do que estava falando, “sei, é que não vou vir mais”. E o que acha disso? “Nada... Sei lá... Minha mãe disse que não venho mais porque agora estou indo pro inglês e aí vou ficar cansada...”

A mãe verbalizou o agradecimento ao trabalho e aos avanços de B., falou da sua alegria em vê-la no Coral e tão diferente no envolvimento com as tarefas escolares e a participação nas aulas, mas disse do seu desejo em fechar o trabalho para dar mais “folga” à rotina de atividades de B. Encerrou sua fala dizendo “... hoje é uma despedida, mas acho que B. pode voltar em outro momento.”

Bem, diante disso, falei de todos os avanços que pude observar em B. durante o trabalho, ia falando dando exemplos e me referindo e olhando para B. Ela ia concordando com a cabeça e com aquele “olhar” que já era tão marcante e conhecido para mim.

B. pediu para fazer um “desenho de despedida”. 

" É você, aqui desse lado com uma roupa divertida e do outro lado é você também piscando o olho e dizendo: e aí, B.?"


 

Sobre B., penso que ainda teria trabalho a fazer, porém vejo que muito foi feito e que o que foi alcançado e vivido por ela e com ela, certamente terá efeitos no seu desenvolvimento pessoal.

Sobre mim, enquanto sujeito participante do processo, observo o meu crescimento, assumindo o material contratransferencial, os erros cometidos durante o processo terapêutico e nas minhas intervenções, que vieram à superfície e foram, com certeza olhados e cuidados no espaço da supervisão, bem como no meu espaço de autoconhecimento, sentindo-me livre para trocar de lápis e mudar a direção da intervenção ao longo do processo de atendimento Ramain-Thiers.

 

 

Referências:

 

DOLTO, Françoise. Sexualidade feminina. 3ª ed.. São Paulo. Martins Fontes. 1996.

 

GERALDI, Ana Cristina e THIERS, Solange. Corpo e Afeto. Rio deJaneiro. Wak2009.

 

THIERS, Elaine.(Org.)Compartilhar em Terapia. Rio de Janeiro. Casa do Psicólogo. 1998.

 

THIERS, Solange. Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers. Rio de Janeiro. Casa do Psicólogo. 1995.

______. Orientador Terapêutico Thiers para crianças. “CR”. Rio de Janeiro: Cesir, 1988.
 

COLEÇÃO
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