A Revista da ABRT Associação Brasileira Ramain-Thiers
 
VITRAIS
vol 57 - fev 2008
 

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Entrevista
com Ana Cristina Geraldi

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Importância dos aspectos emocionais
A arte e o desvelar do Inconsciente

Reflexão


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REFLEXÃO

 

Gracias a la vida 

Ando cantarolando muito uma música de Violeta Parra, que começa assim; "gracias a la vida que ha dado tanto", e fico fazendo meu exercício socrático pensando em quantas coisas acontecem que nós esquecemos de agradecer. 

O que você faz quando acorda pela manhã? Se espreguiça e agradece por mais um dia, pelo sol que trará novas possibilidades, pela pessoa que está ao seu lado (e a ela também, por estar ao seu lado) ou acorda na pressa sufocante da hora perdida, da voracidade temporal? 

E ao levantar, cantarola uma musica, se olha no espelho pelo simples prazer de se conhecer, ou veste uma roupa murmurando compromissos urgentes, que não podem sequer esperar a respiração se cadenciar?

A vida não em pressa, ela pode esperar, ela precisa esperar. Nós é que apressamos demais a vida, trocando qualidade por quantidade, escolhas por agilidade, prazer por satisfação. 

Em que estação do ano nós estamos? Sim, sei que você acertou, mas porque lembrou do mês ou porque sentiu o vento no rosto, o cheiro das flores, o calor do sol? 

Nós aprendemos a organizar nossos dias por compartimentos, como gavetas num grande armário. E o nosso sentir? o que fazemos com ele? Sentimos bem pouco a nós mesmos, conhecemos bem pouco nossos reais desejos, nossas verdadeiras necessidades. Estamos vivendo sob a égide da banalidade, onde tudo é igual, se faz igual e quer ser parecido (para não dizer também igual) a um outro igual, em formas, gestos, cores.. 

Porque a similaridade nos atrai tanto? Não acredito que os opostos se atraiam (eles se bastam, e como tudo que se basta, basta por apenas um tempo, pois o homem precisa extrapolar sempre, para dar sentido a vida), mas os similares sim... Nos pareamos entre os iguais desde os mais remotos processos de agrupamento social, pois precisamos reconhecer no outro aquilo que nosso espelho não nos mostra porque não dedicamos a ele o tempo necessário de nos mostrar por inteiro. 

Para me conhecer preciso me entregar por inteira a minha verdade, sem desculpas tolas ou justificativas pseudo-plausíveis, mas via de regra, nos pegamos sistematicamente nos boicotando no nosso próprio processo de reconhecimento, mentindo para o espelho como se ele fosse o algoz mais cruel que pudesse existir.  

E nessa roda viva de vida, esquecemos de agradecer... pelo sol, pelo ar, pelo sorriso de um filho, pelo cheiro doce de um amor, pela chama de uma paixão, pela dor que nos amadurece, pela hora ganha quando parece que iamos perdê-la, pelos nossos amores, pelos nossos amigos, pelos nosso prazeres, pelos nossos gozos... por tudo que está além da banalidade do cotidiano. 

Nos engessamos em rotinas, padrões, modelos, conceitos, horários e esquecemos de dignificar nossos dias, todos eles, com um sorriso, um obrigada, um copo d´agua bebido lentamente para matar  sede do corpo, um beijo dado lentamente para mater a sede da alma, um vento doce no rosto, uma musica querida que toca no meio do engarrafamento, um amigo de muitos anos, um reencontro esperado, um reencontro inesperado... a vida está ai, acontecendo a cada momento, pedindo para ser celebrada, comemorada, aplaudida e nós, na nossa limitada visão temporal, estamos esperando sempre que o grande finale aconteça, para que possamos então aplaudi-la comoda e disciplinadamente. 

A vida transborda, extrapola, pluraliza... e já que estamos nela e com ela, ergamos nossas taças e brindemos aos nossos dias! 

Gracias,  
Karenina Azevedo
Coordenadora e Sociopsicomotricista em Salvador

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