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SOCIOPSICOMOTRICIDADE RAMAIN-THIERS

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CIÊNCIA 8

 

UMA ABORDAGEM ÉTICA EM RAMAIN-THIERS
Trabalho apresentado no I Seminário de Sociopsicomotricidade do Nordeste - Out/1999

ELAINE THIERS

Psicóloga, Especialista em Psicomotricidade - CRP 05, Terapeuta de Formação Thiers

 

Nesta mesa vamos falar das nossas experiências profissionais, dentro de um contexto ético que normatiza ações, a partir de valores internos que introjetamos ao longo da vida e dos valores externos que pressupõe uma contextualização.

O que nos parece mais difícil na modernidade é que a contextualização implica na relação com as mudanças de valores que ocorrem rapidamente.

Nós terapeutas, que estamos lidando a todo momento com questões vinculadas com a cisão interna do objeto, posteriormente com a integração do objeto na sua totalidade, a mãe sentida com partes boas e más, constatamos também que uma das maiores dificuldades para o indivíduo viver na cultura é a não entrada da função paterna.

O desconhecimento da autoridade, limita o indivíduo a permanência na simbiose.

Como podemos esperar de alguém que não “vê o outro” atitudes éticas?

Dentro da nossa concepção a ética pode ser obtido, entre outras formas através de um processo terapêutico que possibilite o homem a conhecer-se.

Por este motivo é que escolhemos falar nesta mesa sobre “Uma Abordagem Ética em Ramain-Thiers”, por ser Ramain-Thiers uma metodologia brasileira, socio-psicoterapêutico que objetiva promover o crescimento psíquico e favorecer que cada um possa vir a ser um cidadão, o que pressupõe sua inserção social e respeito à princípios éticos.

Ética na atualidade tem sido um tema instigante à reflexão em todas as áreas do saber e nas diferentes classes sociais.

Segundo Aurélio, 1986, a ética se define “... como o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto.” p. 591.

Pensando em ética e a nossa postura profissional constatamos a importância de contextualização, pois o que era rigorosamente um modelo ético dos séculos passados, não necessariamente correspondem à ética atual.

Na modernidade há um declínio de valores, de ideologias, de referências, com uma prevalência do narcisismo, das dificuldades de viver em grupo, conviver com o outro. Isto desorienta o Ser, que fica sem referências para encontrar os seus caminhos, o seu livre arbítrio que fundamentou uma melhor conduta moral de comportamento, pertinente com a situação.

Nós terapeutas, necessitamos revisar constantemente os nossos valores éticos, contextualizando-os no momento histórico-cultural.

Ramain-Thiers como trabalho terapêutico oferece um espaço também de introjeção de questões éticas.

Trabalhamos com algumas propostas específicas de desenhos, recortes, modelagens, oferecemos instrução que deve ser respeitada; o importante não é o produto e sim o processo de realização das atividades.

O respeito à instrução remete-nos às questões psíquicas vinculadas à Lei Maior, que fundamenta aspectos morais.

Utilizamos os lápis de cor para correção de erros, e isto promove a reparação interna do indivíduo frente à sua própria vida.

Deixa de ficar desorientado frente aos seus erros, encontrando novos caminhos, o que lhe permite se tornar mais responsável para lidar com o “caos” social, quando este se instala. Aqui percebemos o desenvolvimento da responsabilidade ética do homem.

Quando a proposta grupal em Ramain-Thiers solicita por exemplo uma cópia, onde todas as pessoas devem trabalhar em todos os papéis, respeitando o traçado original, encontramos aí o cuidado com o outro, que deveria ser a essência das relações humanas, porque é uma das formas de amor.

Respeitar o outro é viver com-paixão, o que segundo Boff, 1999, “(...) é a capacidade de compartilhar a paixão do outro e com o outro. Trata-se de sair de seu próprio círculo e entrar na galáxia do outro para sofrer com ele, alegrar-se com ele, caminhar junto com ele e construir a vida em sinergia com ele”. p. 126.

Isto nos remete aos princípios da igualdade de direitos humanos e a conseqüente renúncia da dominação do outro.

Em algumas situações no processo sócio-psicoterapêutico percebemos uma dificuldade da pessoa em respeitar a si própria. Nestas situações podemos questionar: Qual é a medida adequada que cada um deve estabelecer para si.? A medida adequada do respeito a si próprio deve ser a conscientização das suas possibilidades e limites. Pois o ultrapassamento desmedido de nossos próprios limites, oriundo da exigência do outro e interna, pode levar-nos à conseqüências psiquicamente dolorosas.

Ramain-Thiers oferece atividades que promovem a criatividade. Para que a criatividade não seja um movimento puramente narcísico, ela precisa de contextualização, isto significa conviver com limites internos e externos. O material oferecido, simbolicamente representa a realidade: aquilo que se dispõe como elementos mediadores da criação. Há necessidade de lidar com os limites seja dentro ou fora do setting terapêutico, como algo que possibilita a descoberta da liberdade.

Ser livre nos leva a uma autonomia sobre os nossos direitos e deveres frente à vida, e isto só é possível a partir de uma introjeção de valores éticos.

No contrato terapêutico dentro do processo Ramain-Thiers, o grupo como uma micro representação do social, precisa das normas e regras que se apliquem a distinção do bem ou do mal, que são aspectos éticos e que referem-se em Ramain-Thiers ao enquadro terapêutico, que inclui: o sigilo, o n.º de sessões semanais, e demais regras de funcionamento. Como nas diferentes culturas também existem regras preestabelecidas, que regulam o comportamento daquele grupo social, que são as legislações.

No Corporal trabalha-se os diferentes momentos da evolução psicosexual que são: Reconstrução da Maternagem, Entrada do Limite, Movimento Edipiano, Descoberta do Eu Social. As questões éticas começam a ser vividas com a Entrada do Limite, porque nos momentos iniciais de maternagem ainda se vivencia resquícios de simbiose, que impedem a descoberta do próprio desejo e a presença do outro em separado de si.

No Movimento Edipiano promovemos a verdadeira introjeção da Lei Maior, o que instaura na pessoa a condição de entrada na cultura, decodificando valores éticos.

A Descoberta do Eu Social já é um momento de um aprofundamento da maturidade no respeito à princípios éticos.

Nos momentos de verbalização, na medida em que a confiança se expande tanto com o terapeuta, como com os membros do grupo, este transcende da situação do “fazer” à situação do “falar”. Isto significa que a sonoridade da palavra, encontra “eco” no outro, que se identifica com o que está sendo falado e associa às suas questões pessoais. Numa dinâmica intensa de trocas subjetivas, permeadas pelo cuidado, pelo amor, pelo respeito, pelo sigilo, pelas contextualizações sociais, a ética encontra a sua culminância ...

Concluímos que ser terapeuta na modernidade é um movimento de amor a si, ao outro e de uma forma mais ampla ao tratar de conflitos psíquicos o terapeuta possibilita a descoberta no outro de uma condição maior de felicidade pessoal.

 

BIBLIOGRAFIA:

AURÉLIO, B. H. F. Novo dicionário da língua portuguesa. 36º ed., Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

BADIOU, A. Para uma nova teoria do sujeito. Rio de janeiro: Relume Dumará, 1994.

BOFF, L. Saber cuidar – ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 1999.

DUPRET, L. (org.) A pesquisa nas ciências do sujeito. Rio de Janeiro: Revinter, 1998.

LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

PONTALIS, L. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DE SÃO PAULO. Revista ide n.º 27. Dez. 1995. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.

THIERS, E. (org.) Compartilhar em Terapia – seleções em Ramain-Thiers. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.

THIERS, S. e cols. Sociopsicomotricidade Ramain-Thiers – Uma leitura emocional, corporal e social. 2ª ed., (1ª ed. de 1994). São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.

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_________. Orientador terapêutico Thiers para adolescentes “AD”. 2ª ed., Rio de Janeiro: CESIR, 1997.

_________. Orientador terapêutico Thiers para adultos “E”. 2ª ed., Rio de Janeiro: CESIR, 1995.

 

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