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CIÊNCIA 6

 

DECIFRAR OS CÓDIGOS DO CORPO
Uma proposta terapêutica em Ramain-Thiers

MARIA DA GRAÇA CONCEIÇÃO

Psicóloga, Sócio-Terapeuta Thiers, Coordenadora Ramain-Thiers de Curitiba.

 

Em Freud (1905), encontramos que a excitação sexual surge (a) como a reprodução de uma satisfação experimentada em conexão com outros processos orgânicos, (b) através da estimulação periférica apropriada das zonas erógenas e (c) como uma expressão de certos “instintos”(tais como o instinto escopofílico) cuja origem ainda não é completamente inteligível.

Também a psicanálise afirmou que ao examinarmos as zonas erógenas, estas regiões da pele mostram apenas uma intensificação especial de uma espécie de suscetibilidade ao estímulo que a superfície cutânea total possui em certo grau.

Assim, podemos mencionar a produção de excitação sexual pelos estímulos térmicos, pela agitação mecânica ritmada do corpo. Os estímulos desta espécie atuam de três maneiras diferentes: sobre o aparelho sensorial dos nervos vestibulares, sobre a pele e sobre partes mais profundas(por ex., os músculos e estruturas articulares).

Há ainda o fato de que as crianças sentem a necessidade de grande dose de exercício muscular ativo e tiram extraordinário prazer de satisfação dessa necessidade.  Se esse prazer tem alguma ligação com a sexualidade, se compreende em si mesmo a satisfação sexual ou se pode tornar-se ocasião para excitação sexual é passível de indagação. Sem exceção, homens e mulheres de todas as idades, culturas, níveis de instrução e econômicos têm emoções, atentam para as emoções dos outros, cultivam passatempo que manipulam suas emoções e em grande medida governam suas vidas buscando uma emoção, a felicidade, e procurando evitar emoções desagradáveis. Não devemos esquecer que todos os processos afetivos, inclusive até mesmo os terroríficos, se avizinham da sexualidade e que um efeito erógeno semelhante se prende até mesmo a sentimentos intensamente dolorosos.

Segundo Damasio (2000) todas as emoções usam o corpo como teatro (meio interno, sistema visceral, vestibular e músculo-esquelético), mas as emoções também afetam o modo de operação de inúmeros circuitos cerebrais: a variedade de reações emocionais é responsável por mudanças profundas na paisagem do corpo e do cérebro. O conjunto dessas mudanças constitui o substrato para os padrões neurais que , em última instância, se tornam sentimentos de emoção.

E finalmente, é fato inegável que a concentração da atenção numa tarefa intelectual e o esforço intelectual em geral produzem uma excitação sexual concomitante em muitos jovens, assim como em adultos.

Na metodologia Ramain-Thiers temos oportunidade de oferecer ao grupo, recursos técnicos que preenchem todas as esferas no tocante às fontes pulsionais, pela riqueza e diversidade de situações onde cada sujeito, de acordo com a sua história, inconscientemente reagirá. Através das propostas corporais podemos observar as emoções sutis, da Psicomotricidade diferenciada o investimento intelectual e na verbalização o nível de  representação, e até as defesas.

Ou seja, os mesmos caminhos, ao longo dos quais os distúrbios sexuais se aproximam das outras funções somáticas, devem também executar outra importante função na saúde normal. Devem servir como caminhos para a atração das forças instintivas sexuais por objetivos não sexuais, isto é, para a sublimação da sexualidade.

Tudo o que ocorre em sua mente se dá em um tempo e em um espaço relativos ao instante no tempo em que seu corpo se encontra e à região do espaço ocupada por ele. As coisas estão dentro ou fora de você. As que se encontram fora estão paradas ou em movimento. As que estão paradas podem estar perto, longe ou a uma distância intermediária. As coisas que estão em movimento podem estar se aproximando ou se afastando, ou se deslocando em uma trajetória que não passa por você, mas o seu corpo é sempre a referência. Além disso, a perspectiva da experiência ajuda a situar não só objetos reais mas também idéias, sejam elas concretas ou abstratas. A propriedade e a condição de agente estão inteiramente relacionadas a um corpo em um instante específico e em um espaço específico. As coisas que você possui estão próximas de seu corpo, ou deveriam estar, para que continuem sendo suas, e isso se aplica às coisas, à pessoa amada ou às idéias.

Ou seja, no setting terapêutico, temos clareza que não existe percepção pura de um objeto, em um canal sensorial por exemplo a visão. Também não visamos a aprendizagem perceptiva, racional, categórica embora esta ocorra em decorrência do processo de integração. Sabemos que os registros que mantemos dos objetos e eventos percebidos em determinada ocasião incluem ajustamentos, assim como reações emocionais que tivemos então, estão portanto co-registrados na memória. Por outro lado quando Freud(1915)  escreveu sobre a fonte das pulsões,  referiu-se a um processo somático que ocorre num órgão ou parte do corpo, e cujo estímulo é representado na vida mental por um instinto.

 Consequentemente a perspectiva assumida em relação a uma melodia que você ouve ou a um objeto tocado é, naturalmente, a perspectiva do seu organismo. À medida que o sujeito se apropria de suas emoções, que estão representadas a partir de seu corpo, e as transforma em “um saber de seus sentimentos” relacionando-as com o afeto, há uma liberação e diminuição de censura permitindo um novo investimento egosintônico.

Em suma, em Ramain-Thiers a consciência tem de estar presente para que os sentimentos influenciem o indivíduo que os tem, além do aqui agora imediato. A relevância desse fato – de que as conseqüências supremas da emoção e do sentimento humano giram em torno da consciência – implica na escolha de uma base epistemológica psicanalítica para o estudo da psique, por outro lado, o corpo como representante das emoções nos remete a um contexto de Psicomotricidade onde o biológico inserido na neurociência também se faz presente.

A leitura transversal em Ramain-Thiers, num momento social tão delicado, nos leva a buscar as conexões a partir do nosso próprio corpo, com os nossos sistemas corpóreos, com as pessoas que nos rodeiam, com o nosso país ou ainda com a terra para que o cérebro possa representar a “digestão” do que se apresenta em cada momento.

Não temos dúvida que o cérebro está na cabeça, porém sabemos que isso não basta, é necessário que ele esteja no corpo todo. Nossas emoções não estão a serviço do cérebro, mas são parceiras para formar com ele nossa organização interna de manutenção da saúde física e mental. Nós não temos um corpo, nós somos o nosso corpo  e através do trabalho terapêutico conseguimos decifrar os códigos desse corpo, compreendê-lo e amá-lo. Só amamos o que compreendemos.

  

BIBLIOGRAFIA 

Freud, S - As obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Ed. Standar Brasileira Vol. VII E VOL. XIV. Rio de Janeiro: Imago

Damasio, A. - O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das Letras. 2000
 

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